O Reino de Deus e a transformação social.

Chega o mês de maio e com ele comemoramos, no primeiro domingo, o Dia Batista de Ação Social.

No decorrer da história, muitos fatos marcantes e significativos ocorreram e foram responsáveis por mudanças relevantes no Serviço Social. O Serviço Social nasceu em Amsterdã, com as Damas da Caridade, e, no Brasil, teve sua trajetória marcada nos anos 90 com a luta pelos direitos humanos.

Uma pesquisa do IBGE aponta para o crescimento da desigualdade social no Brasil, informando que o rendimento médio mensal dos mais ricos corresponde a mais de 33 vezes o recebido pela parcela mais pobre. Assim, a violação de direitos (mortalidade infantil, trabalho infantil, violência) está posta na desigualdade social.

Dos dados apresentados, pode-se constatar que este é um contexto inegavelmente inquietante a todos os que se preocupam com a construção de uma sociedade mais humana. Resta inevitavelmente uma questão: como nós, membros do corpo de Cristo e integrantes de uma igreja que está inserida numa comunidade, podemos construir uma sociedade mais humana?  

Na história da igreja, ao se analisarem as Escrituras, observa-se que o papel social não é algo tão recente. A partir da sua fundação, a igreja é vista como um local de auxílio material aos seus membros mais necessitados. Em Tiago 1.27, encontramos uma exortação para que a igreja olhe, vele, assista às pessoas que estão carentes de assistência social, de ajuda, como os órfãos e as viúvas em suas necessidades.

A Bíblia Sagrada segue nos encorajando a cuidar “não somente de nossos próprios interesses” (Filipenses 2.4), mas a “ajudar os fracos” (Atos 20.35-38), os que estão sendo maltratados, “como se vocês mesmos estivessem sendo maltratados” (Hebreus 13.1-30).

Diante da realidade posta, a Cosmovisão Cristã está baseada no caráter de um Deus que é de profunda compaixão e misericórdia. O nosso relacionamento com o Deus da compaixão deve necessariamente nos levar ao exercício da justiça e à transformação social em relação ao próximo.

Vivemos cercados por comunidades desassistidas. Não me refiro apenas à miséria do ponto de vista econômico, mas também à de ordem existencial. Dito isso, como cristãos e enquanto igreja, quando nos propomos a ajudar alguém em situação de vulnerabilidade social, há algo mais do que uma simples satisfação imediata da necessidade material em questão, ela ocorre também na ordem existencial.

Como diz Timothy Keller, citando Miquéias 6.8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”. O viver com justiça em direção ao próximo constitui o centro da vida cristã e do chamado do povo de Deus para o mundo.

Nesse aspecto, as necessidades dos que estão a nossa volta e que não conhecem a Cristo devem ser  levadas a cabo de questão e encaradas com toda a seriedade. Estamos falando em mostrar o Deus que conhecemos àqueles que não O conhecem.

Oportuna-se ao necessitado, por meio da ação e palavra – “fale, se for necessário” –, a possibilidade de mudança de vida. Não uma mudança qualquer, mas uma transformação que é interior, operada pelo próprio Deus.  A mensagem salvadora “nova criatura” deve ser, em sua essência, capaz de contribuir para que esse “novo homem”, transformado, também transforme seu ambiente natural a partir de um novo perfil social, pautado em algumas atitudes favoráveis à inclusão e à construção de identidades cidadãs.

O resultado desse trabalho social é duplo: para os que trabalham, experimentam o doce sabor de serviço ao próximo, de estar lado a lado daqueles que não conhecemos, mas que fazem parte da nossa comunidade; e para os que se beneficiam, poderem ver o Deus de misericórdia, que os ama e está disposto a dar muito mais do que bem-estar físico.

A nossa Igreja Batista Emanuel em Boa Viagem, nesse contexto de participação e consciente de seu papel, iniciou, em 1982, por meio da Creche Núcleo Raio de Sol, sua atuação social, atendendo as crianças. Em 2002, com o maior engajamento dos membros e congregados, houve a criação do Núcleo de Atuação Social Cristã Emanuel (NASCE), um espaço de solidariedade, mobilização e cooperação.

Como cristãos, devemos sempre estar revendo quais são as implicações sociais do evangelho e a atuação da igreja na sociedade. É nesse diapasão que o NASCE foi criado: para desenvolver ações sociais que visam tornar concretas e visíveis as expressões de solidariedade e de justiça que sinalizam o reino de Deus e promovem a glória de Deus. É assim que preconiza nossa missão e visão.

Nós protegemos, nós acolhemos, nós alimentamos, nós fortalecemos vínculos. Nós promovemos o bem-estar e o desenvolvimento de pessoas em situação de vulnerabilidade, apresentando orientação, suporte, apoio e encaminhamentos. Cada pessoa é única, e procuramos individualizar a situação e contextualizar o atendimento, buscando o melhor programa ou benefício para atender as necessidades específicas, promovendo interação, educação, saúde, cultura e autoestima.  

Acreditamos que a transformação da sociedade acontece não só por meio da Palavra, mas também de ações efetivas e eficazes, com demonstração de amor ao próximo. Como João, em sua primeira carta, escreve: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1 João 3.17-18).

Como cristãos, somos chamados a ter um estilo de vida consciente. Consciente dos milhões de brasileiros que não têm o que comer. Somos chamados à nossa consciência diante de Deus, a responder a isso com fraternidade e comunidade. Afinal, este é o modelo do reino: comunidade, fraternidade, solidariedade, justiça, igualdade, repartir.

Como cristãos, devemos sempre estar revendo quais são as implicações sociais do Evangelho e a atuação da igreja na sociedade. Lembram-se de Jó 42.5?

Nós queremos, como igreja, que você não apenas conheça de ouvir de falar, mas veja com seus próprios olhos e, se o Espírito Santo tocá-lo, que se engaje nos trabalhos sociais da Igreja Batista Emanuel em Boa Viagem.

Neste mês e nos meses que se seguem, desejo que possamos OFERECER de volta para Deus o que recebemos de graça do Senhor, ao servirmos de coração ao nosso próximo; TRANSFORMAR tudo à nossa volta, com o que temos nas mãos; MULTIPLICAR, empreendendo criativamente, com nossos talentos e bens; e DOAR aquilo que recebemos: o amor de Deus.

FABÍOLA FRANÇA | NASCE

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